Os representantes da sociedade civil, do setor privado e dos organismos governamentais, delegados, convidados e observadores abaixo listados, presentes na II Conferência Regional do Meio Ambiente, realizada no município de Paulo Afonso, Bahia, entre os dias 13 a 15 de dezembro de 2007, no Centro de Cultura Lindinalva Cabral, vêm através deste documento manifestar sua posição de repúdio ao Projeto de Transposição do Rio São Francisco (Projeto de Interligação de Bacias), sob as seguintes justificativas:
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• O Projeto de Transposição do Rio São Francisco (Projeto de Interligação de Bacias) é ambientalmente insustentável, economicamente inviável, socialmente injusto e anti-democrático, uma vez que a maior parte do recurso hídrico previsto para ser desviado, será utilizado para o fortalecimento das atividades do setor secundário (industrial) e do setor primário (produtivo), e não para a democratização do uso humano e descentralizado (Direito universal previsto na Carta Magna Brasileira) e o combate à seca e a falta de água, como defende o Governo Federal e o Sr. Presidente da República Federativa do Brasil; este tipo de discurso populista e enganador foi da mesma forma reverberado às populações ribeirinhas e Comunidades Tradicionais das cidades hoje submersas pela construção das usinas de Itaparica, Sobradinho, dentre outras, e que atualmente ainda continuam lutando por suas reivindicações e direitos.
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• Toda a água destinada para o setor de produção primário servirá para fortalecer ainda mais a expansão desordenada e degradadora das fronteiras agrícolas, controladas pelas grandes empresas multinacionais da fruticultura irrigada e do agronegócio, que se aproveitarão das condições ambientais apropriadas do nosso país para produzir alimento de qualidade a serem exportados para a Europa, Ásia, América do Norte e outros grandes centros capitalistas mundiais, deixando de herança para a população pobre do nordeste apenas os passivos socioambientais causados com o uso indiscriminado de agrotóxicos, reprodução de modelos de irrigação que provocam a salinização do solo e a supressão de mata nativa para substituição por grandes áreas de monocultivos de espécies exóticas e com hábito hidrófilo, situação que não é ideal às realidades da Zona Semi-Árida Brasileira;
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• Pela ausência de bom senso e ética pública das ações governamentais que de um lado, através de suas Coordenações, Diretorias, Secretarias e Ministérios, vem implementando diversas ações socioambientais que garantem a conservação aliada ao uso sustentável dos recursos naturais da Biodiversidade e da Agrobiodiversidade, através da Construção do Plano de Ação Nacional de Combate à Desertificação, sendo o Brasil o País que irá sediar a 14ª COP de Mudanças Climáticas, na consolidação da Política Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais, nas ações de revitalização do Rio São Francisco, no fortalecimento da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, dentre várias outras, e por outro lado, executa o Projeto de Transposição do Rio São Francisco sob o caráter degradador da Biodiversidade, visando fortalecer a ampliação das fronteiras agrícolas do país para produzir ‘‘combustíveis limpos’’ para servir à manutenção dos padrões de vida norte-americano, que por sua vez continuará contribuindo para o agravamento dos cenários do aquecimento global e efeito estufa no planeta, violando os direitos humanos das diversas Comunidades Tradicionais que vivem às margens do São Francisco, impedindo-as ao acesso de seus territórios tradicionais, como previsto na própria PNPCT (Decreto 3.693/07), que estão sendo afetadas com o processo de construção dos canais e das barragens da Transposição, anulando todos os esforços, avanços e conquistas obtidas até o presente momento pela execução daquelas;Repudia, com igual veemência, a forma irresponsável e negligente como o Governo Federal vem tratando a reivindicação dos movimentos sociais e da sociedade civil organizada, materializada pela ação de protesto realizada pelo Frei Dom Luís Flávio Cappio, que hoje (15.12.2007) completa o seu 19º dia de greve de fome, no municipio de Sobradinho, Bahia, contra a execução deste Projeto de caráter excludente, injusto, anti-ético e que não resolverá, nem de longe, o problema da seca e da falta de água na Zona Semi-Árida Brasileira, servindo apenas de moeda de troca para o fortalecimento de um mecanismo engendrado, promotor da manutenção e perpetuação de estratégias politiqueiras de dominação social coletiva, em nome de vitaliciedades dos coronéis da Política neste país.
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Em nome do rio, da vida do rio e das vidas do rio São Francisco.Camponeses, Indígenas, Quilombolas, Pescadores, Ribeirinhos, Sertanejos e Sertanejas. Povo sofrido, que abaixo-assinado diz “Basta!”
domingo, 15 de junho de 2008
É possível viver sem petróleo?

Formado por uma mistura de compostos, o petróleo é matéria-prima essencial nas indústrias de tintas, ceras, vernizes, resinas, extração de óleos e gorduras vegetais, pneus, borrachas, fósforos, fertilizantes e alimentos. A partir de seu refino são extraídos, entre outros, gasolina, diesel, querosene, óleo combustível, lubrificante e parafina. Além disso, as perfurações em busca de petróleo geram também o gás de cozinha, encontrado nos poços de petróleo. Assim, não é à toa que ele tenha sido apelidado de “ouro negro”: o petróleo está presente em uma infinidade de produtos.
Dados fornecidos pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) mostram que o petróleo ocupa uma posição de destaque na matriz energética brasileira, com 37% da oferta de energia primária. Apesar disso, o País começa a fazer sua lição de casa e aprende a depender um pouco menos desse tipo de combustível. É o que ocorre, por exemplo, em Betim, município mineiro conhecido como pólo da indústria automobilística e petroquímica. A cidade é modelo nacional no uso de energias limpas. Betim também participa da campanha internacional denominada Cidades pela Proteção do Clima, destinada a incentivar políticas com medidas quantificáveis para a redução de emissões locais de gases de efeito estufa como forma de melhorar a qualidade do ar e da vida.
Significa que a cidade não apenas utiliza fontes alternativas de energia, mas também se preocupa em racionalizar o uso dos combustíveis fósseis e da eletricidade. Lâmpadas a vapor de sódio, mais eficientes e econômicas, substituem as de mercúrio na iluminação pública. Leis municipais obrigam o uso de veículos oficiais do tipo flex (gasolina e álcool) e a frota de ônibus é movida a biodiesel, que contém um percentual de 2% de fonte energética renovável.
O petróleo vai acabar? - O esforço para limitar o uso de combustíveis fósseis é limitado e a dependência traz a interrogação: será verdade que, diante do aumento da população e das novas necessidades econômicas, chegará um dia em que o petróleo vai acabar? No ritmo atual de consumo, as reservas mundiais já descobertas devem durar apenas mais 75 anos – menos de um século, garantem os especialistas mais otimistas. Os pessimistas falam em algo como 35 anos. A procura pelo “ouro negro” é maior do que a descoberta de novas reservas. E o alto preço do barril que, na virada de 2008, alcançou o recorde de US$ 100, não interfere nesse cálculo. Mas certamente acelera a busca por alternativas, sobretudo quando o preço sobe em função dos conflitos em áreas explosivas do planeta, como é o caso do Oriente Médio.
Seja como for, o petróleo nunca vai acabar: deixaremos de usá-lo em grande quantidade antes que isso aconteça”, profetiza Roberto Schaffer, pesquisador da Coppe, instituição de pesquisa da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Na opinião de Schaffer, fontes mais limpas, à medida que se tornam mais baratas e eficientes, tomarão o lugar do petróleo, nas utilizações em que ele causa aumento de emissões de gases de efeito estufa como combustível de automóveis e fonte primária de energia. Mas esse recurso encontrará novos espaços, sendo utilizado de forma mais nobre por meio do refino. “Em vez de ser queimado com emissões para a atmosfera, gerará matéria-prima para novos produtos industrializados, onde o carbono fica aprisionado”, explica o pesquisador.
“Após séculos de dependência, seria ilusório imaginar que podemos viver totalmente sem petróleo”, acrescenta Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), das Nações Unidas.
Fugindo da gasolina - Outro grande desafio são os atuais 950 milhões de veículos, que respondem por cerca de 10% das emissões globais de dióxido de carbono – o principal gás causador do efeito estufa. Nesse ponto, o Brasil leva vantagem. O relatório dos cientistas do IPCC, responsável pelos dados mais atualizados sobre o aquecimento global, propõe que os biocombustíveis substituam entre 5% e 10% da gasolina consumida no mundo até 2030. Atualmente, essas fontes renováveis representam apenas 1% da energia utilizada no transporte.
Em um prazo de duas décadas, acredita-se que o Brasil poderá ter capacidade de produzir etanol suficiente para o mundo atingir as metas do IPCC. Traduzindo: evitar a queima de 1,7 trilhão de litros de combustíveis não-renováveis por ano em todo o planeta, de acordo com o estudo do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Estratégico (Nipe), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Essa capacidade é importante, embora a febre do etanol implique em questões sociais fundamentais, como as condições de trabalho dos cortadores de cana e a ocupação de áreas propícias ao cultivo de alimentos. Enquanto os Estados Unidos estipulam metas para substituir, até 2020, um sexto da gasolina por álcool, em território brasileiro, esse combustível mais limpo representa 40% do consumo. E 80% dos novos carros já saem da fábrica com tecnologia flexível, podendo utilizar álcool ou gasolina.
Isso significa que o etanol poderá vir a substituir totalmente a gasolina nesse intervalo de tempo? Bem, não necessariamente. O petróleo é tão importante na civilização moderna que, curiosamente, dependemos dele até mesmo para produzir combustível renovável. “Para 100 litros de etanol, são utilizados 7,1 litros de petróleo, necessários na produção, por exemplo, dos adubos nitrogenados e herbicidas para o cultivo da cana, da gasolina dos tratores, do diesel dos caminhões e do óleo das máquinas e outros equipamentos das usinas”, afirma o pesquisador Isaías Macedo, do Nipe.
A busca por novos caminhos - “Caminhamos para a era do hidrogênio, que fará parte das nossas vidas nos próximos dez anos”, prevê o engenheiro Paulo Emílio de Miranda, da UFRJ. O hidrogênio está presente, por exemplo, nas novas tecnologias desenvolvidas pela indústria automobilística para se adaptar ao mundo sem petróleo. Mas ele não deve abastecer somente os carros. No Japão, segundo Miranda, existem mais de duas mil casas aquecidas por esse tipo de energia elétrica, que não polui e pode ser obtida até da água.
O Brasil dá os primeiros passos, com o projeto de um ônibus abastecido por essa fonte renovável, desenvolvido pela UFRJ com apoio da Petrobras e da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Os experimentos vão além dos centros urbanos. Chegam ao povoado Pico do Amor, próximo a Cuiabá (MT), que ganhou, neste ano, um gerador de eletricidade à base de hidrogênio, extraído do etanol vindo da cana. Projetado pela Unicamp, o equipamento levará luz à comunidade e fará funcionar máquinas para produzir farinha e rapadura.
“A solução não é apenas buscar alternativas, mas ter um estilo de vida mais saudável”, afirma o engenheiro químico Márcio Nele, também da UFRJ. “Não adianta usar biodiesel e dobrar o número de veículos nas ruas”, afirma, lembrando que nunca se consumiu tanta energia no mundo como nos dias atuais. Só para dar um exemplo simples: o que aconteceria se um chinês adotasse os mesmos hábitos de consumo de um americano de hoje? Esse cálculo já foi feito. Se a China tiver três carros para cada quatro habitantes, como ocorre nos Estados Unidos, somará 1,1 bilhão de veículos, mais do que existe hoje em todo o planeta. O consumo de combustível, de 99 milhões de barris diários, também superaria o consumo global atual, segundo previsão de Lester Brown, presidente do Instituto de Política da Terra, organização internacional sediada em Washington, nos Estados Unidos. Para ele, chegou a hora de mudar os padrões econômicos da civilização. “O mundo precisa urgente de um plano B”, afirma. Se, aos poucos, se esforça para diminuir a dependência do petróleo, também precisa aprender a usá-lo de forma mais racional.
* Texto baseado em informações da reportagem “É possível viver sem petróleo?”, Revista Horizonte Geográfico, número 115. Texto de Sérgio Adeodato.
Notícia devastante na semana de meio ambiente...
O preço da devastação: rio muda de curso
Estudo feito pela Associação de Geógrafos do Espírito Santo afirma que a atividade da Aracruz causa fortes danos ambientais e também reclama da “apropriação de recursos hídricos” pela empresa papeleira.
Por Lúcio Vaz - Correio Braziliense*
Carlos Vieira/CBLauro Martins observa leito seco do riacho Sossegoem meio a tocos de árvores
Aracruz, ES - A degradação de nascentes e rios e destruição de matas nativas no município de Aracruz foi registrada em detalhes por estudo feito pela Associação de Geógrafos Brasileiros, seção Espírito Santo. O estudo aponta assoreamento dos cursos d’água, contaminação das águas, a destruição dos rios. “O rápido crescimento urbano da sede de Aracruz produziu grande quantidade de esgoto, que passou a ser despejado sem tratamento nas nascentes dos rios e córregos próximos da área urbana, entre eles os rios Sahy e Guaxindiba. Essa evacuação in natura dos esgotos, somada a outras intervenções, como o represamento, desmatamento, produtos químicos e obstrução dos leitos por obras de engenharia para as estradas de transporte de eucalipto, acabaram com a vida desses rios”, diz o documento.
Os índios tupiniquins e guaranis conseguiram no ano passado a declaração de posse de 18 mil hectares ocupados pela Aracruz. Mas receberam de volta uma terra degradada. Eles ainda não decidiram o que fazer com os tocos de eucaliptos quando a Aracruz retirar a madeira para produzir celulose. Se tirarem os tocos, restarão os buracos. Nas proximidades da aldeia de Caieiras Velhas, o riacho Sossego está completamente seco. As encostas, tomadaspor tocos de eucaliptos.
O tupiniquim Lauro Martins, 51 anos, afirma que a nascente era nas proximidades. “Começaram a derrubar o mato em 1970, com trator na chapada e a machado nas encostas. Logo, as nascentes começaram a secar. Antes, davapeixes como traíra, jundiá, piaba. Com os eucaliptos, secou tudo.”
Segundo os cálculos da associação de geógrafos, a quantidade de água consumida diariamente pela Aracruz Celulose localizadas na Barra do Riacho, no processamento e branqueamento da celulose, aproxima-se dos 250 mil metros cúbicos, o que eqüivale ao consumo diário de uma cidade de 2,5 milhões de habitantes. Questionada pelo Correio, a empresa não respondeu quanto consome de água, mas informou que, na unidade Barra do Riacho (ES), possui “abastecimento próprio” por represa de 47 milhões de m³ de água.
Domínio
O estudo afirma que o projeto Aracruz Celulose “está baseado na apropriação dos recursos hídricos por meio do domínio da terra. Nessa perspectiva, o controledos recursos hídricos é peça fundamental para a existência e expansão deste empreendimento. O domínio desses recursos se dá pelo monopólio da terra, pelocrescimento urbano e pelas atividades industriais”. O trabalho foi coordenado pelo professor Paulo Scarim, na Universidade Federal do Espírito Santo.
As conseqüências da transposição do Rio Doce também foram analisadas pelos geógrafos. Eles relatam que, na saída do rio para o canal artificial foi construídauma eclusa, que controla a quantidade de água que entra no canal. Ao longo desse duto existem outras eclusas que controlam a vazante da água. Essas eclusas comandam, portanto, o regime dos rio Comboios e Riacho de acordo com a necessidade da produção da fábrica.
“Dessa forma entende-se a inundação constante das terras indígenas de Comboios, a mudança da qualidade das águas e a diminuição dos peixes. De um regime fluvial natural de cheias e vazantes derivou-se um regime industrial”, diz o estudo. Fotos aéreas de 1965, antes da chegada da empresa, demonstramque a região detinha a maior parte de sua área coberta pela Mata Atlântica.
A análise dos estudos de impacto ambiental feitos em 1987 pelo Instituto Tecnológico da Universidade Federal do Espírito Santo afirma que, “por meio da análise de fotos aéreas obtidas em 1970, verificou-se que pelo menos 30% do município de Aracruz era coberto por floresta nativa no início da década de 1970, que foi substituída por florestas homogêneas de eucalipto”.
O plantio nos territórios indígenas foi iniciado em 1967 pela Vera Cruz Florestal. Pouco tempo depois, foi criada a Aracruz Florestal (Arflo, que cuidava especificamente dos plantios da Aracruz. No início da década de 1970, écriada a fábrica Aracruz, que começou a produção de celulose com capacidade de 470 mil toneladas/ano.
Em 1971, o biólogo Augusto Ruschi denunciava que espécies nativas da Mata Atlântica estariam sendo destruídas pela empresa: “As presentes espécies eram abundantíssimas nas matas que ligavam Santa Cruz a Aracruz, onde foram feitas e ainda continuam as derrubadas com dois tratores em paralelo, ligados por um correntão, que avançam sobre a floresta virgem e levam tudo de roldão. A cada dia são centenas de hectares, e após um mês, recebem fogo. Logo, com a calagem do terreno, vem o plantio do eucalipto”.
Em 1971, o biólogo Augusto Ruschi denunciava que espécies nativas da Mata Atlântica estariam sendo destruídas pela empresa: “As presentes espécies eram abundantíssimas nas matas que ligavam Santa Cruz a Aracruz, onde foram feitas e ainda continuam as derrubadas com dois tratores em paralelo, ligados por um correntão, que avançam sobre a floresta virgem e levam tudo de roldão. A cada dia são centenas de hectares, e após um mês, recebem fogo. Logo, com a calagem do terreno, vem o plantio do eucalipto”.
Estudo feito pela Associação de Geógrafos do Espírito Santo afirma que a atividade da Aracruz causa fortes danos ambientais e também reclama da “apropriação de recursos hídricos” pela empresa papeleira.
Por Lúcio Vaz - Correio Braziliense*
Carlos Vieira/CBLauro Martins observa leito seco do riacho Sossegoem meio a tocos de árvores
Aracruz, ES - A degradação de nascentes e rios e destruição de matas nativas no município de Aracruz foi registrada em detalhes por estudo feito pela Associação de Geógrafos Brasileiros, seção Espírito Santo. O estudo aponta assoreamento dos cursos d’água, contaminação das águas, a destruição dos rios. “O rápido crescimento urbano da sede de Aracruz produziu grande quantidade de esgoto, que passou a ser despejado sem tratamento nas nascentes dos rios e córregos próximos da área urbana, entre eles os rios Sahy e Guaxindiba. Essa evacuação in natura dos esgotos, somada a outras intervenções, como o represamento, desmatamento, produtos químicos e obstrução dos leitos por obras de engenharia para as estradas de transporte de eucalipto, acabaram com a vida desses rios”, diz o documento.
Os índios tupiniquins e guaranis conseguiram no ano passado a declaração de posse de 18 mil hectares ocupados pela Aracruz. Mas receberam de volta uma terra degradada. Eles ainda não decidiram o que fazer com os tocos de eucaliptos quando a Aracruz retirar a madeira para produzir celulose. Se tirarem os tocos, restarão os buracos. Nas proximidades da aldeia de Caieiras Velhas, o riacho Sossego está completamente seco. As encostas, tomadaspor tocos de eucaliptos.
O tupiniquim Lauro Martins, 51 anos, afirma que a nascente era nas proximidades. “Começaram a derrubar o mato em 1970, com trator na chapada e a machado nas encostas. Logo, as nascentes começaram a secar. Antes, davapeixes como traíra, jundiá, piaba. Com os eucaliptos, secou tudo.”
Segundo os cálculos da associação de geógrafos, a quantidade de água consumida diariamente pela Aracruz Celulose localizadas na Barra do Riacho, no processamento e branqueamento da celulose, aproxima-se dos 250 mil metros cúbicos, o que eqüivale ao consumo diário de uma cidade de 2,5 milhões de habitantes. Questionada pelo Correio, a empresa não respondeu quanto consome de água, mas informou que, na unidade Barra do Riacho (ES), possui “abastecimento próprio” por represa de 47 milhões de m³ de água.
Domínio
O estudo afirma que o projeto Aracruz Celulose “está baseado na apropriação dos recursos hídricos por meio do domínio da terra. Nessa perspectiva, o controledos recursos hídricos é peça fundamental para a existência e expansão deste empreendimento. O domínio desses recursos se dá pelo monopólio da terra, pelocrescimento urbano e pelas atividades industriais”. O trabalho foi coordenado pelo professor Paulo Scarim, na Universidade Federal do Espírito Santo.
As conseqüências da transposição do Rio Doce também foram analisadas pelos geógrafos. Eles relatam que, na saída do rio para o canal artificial foi construídauma eclusa, que controla a quantidade de água que entra no canal. Ao longo desse duto existem outras eclusas que controlam a vazante da água. Essas eclusas comandam, portanto, o regime dos rio Comboios e Riacho de acordo com a necessidade da produção da fábrica.
“Dessa forma entende-se a inundação constante das terras indígenas de Comboios, a mudança da qualidade das águas e a diminuição dos peixes. De um regime fluvial natural de cheias e vazantes derivou-se um regime industrial”, diz o estudo. Fotos aéreas de 1965, antes da chegada da empresa, demonstramque a região detinha a maior parte de sua área coberta pela Mata Atlântica.
A análise dos estudos de impacto ambiental feitos em 1987 pelo Instituto Tecnológico da Universidade Federal do Espírito Santo afirma que, “por meio da análise de fotos aéreas obtidas em 1970, verificou-se que pelo menos 30% do município de Aracruz era coberto por floresta nativa no início da década de 1970, que foi substituída por florestas homogêneas de eucalipto”.
O plantio nos territórios indígenas foi iniciado em 1967 pela Vera Cruz Florestal. Pouco tempo depois, foi criada a Aracruz Florestal (Arflo, que cuidava especificamente dos plantios da Aracruz. No início da década de 1970, écriada a fábrica Aracruz, que começou a produção de celulose com capacidade de 470 mil toneladas/ano.
Em 1971, o biólogo Augusto Ruschi denunciava que espécies nativas da Mata Atlântica estariam sendo destruídas pela empresa: “As presentes espécies eram abundantíssimas nas matas que ligavam Santa Cruz a Aracruz, onde foram feitas e ainda continuam as derrubadas com dois tratores em paralelo, ligados por um correntão, que avançam sobre a floresta virgem e levam tudo de roldão. A cada dia são centenas de hectares, e após um mês, recebem fogo. Logo, com a calagem do terreno, vem o plantio do eucalipto”.
Em 1971, o biólogo Augusto Ruschi denunciava que espécies nativas da Mata Atlântica estariam sendo destruídas pela empresa: “As presentes espécies eram abundantíssimas nas matas que ligavam Santa Cruz a Aracruz, onde foram feitas e ainda continuam as derrubadas com dois tratores em paralelo, ligados por um correntão, que avançam sobre a floresta virgem e levam tudo de roldão. A cada dia são centenas de hectares, e após um mês, recebem fogo. Logo, com a calagem do terreno, vem o plantio do eucalipto”.

Leonardo Boff nasceu em Concórdia, Santa Catarina, aos 14 de dezembro de 1938. É neto de imigrantes italianos da região do Veneto, vindos para o Rio Grande do Sul no final do século XIX.Fez seus estudos primários e secundários em Concórdia-SC, Rio Negro-PR e Agudos-SP. Cursou Filosofia em Curitiba-PR e Teologia em Petrópolis-RJ. Doutorou-se em Teologia e Filosofia na Universidade de Munique-Alemanha, em 1970. Ingressou na Ordem dos Frades Menores, franciscanos, em 1959.
Durante 22 anos, foi professor de Teologia Sistemática e Ecumênica em Petrópolis, no Instituto Teológico Franciscano. Professor de Teologia e Espiritualidade em vários centros de estudo e universidades no Brasil e no exterior, além de professor-visitante nas universidades de Lisboa (Portugal), Salamanca (Espanha), Harvard (EUA), Basel (Suíça) e Heidelberg (Alemanha).
Esteve presente nos inícios da reflexão que procura articular o discurso indignado frente à miséria e à marginalização com o discurso promissor da fé cristã gênese da conhecida Teologia da Libertação. Foi sempre um ardoroso defensor da causa dos Direitos Humanos, tendo ajudado a formular uma nova perspectiva dos Direitos Humanos a partir da América Latina, com "Direitos à Vida e aos meios de mantê-la com dignidade".
É doutor honoris causa em Política pela universidade de Turim (Itália) e em Teologia pela universidade de Lund (Suécia), tendo ainda sido agraciado com vários prêmios no Brasil e no exterior, por causa de sua luta em favor dos fracos, dos oprimidos e marginalizados e dos Direitos Humanos.
De 1970 a 1985, participou do conselho editorial da Editora Vozes. Neste período, fez parte da coordenação da publicação da coleção "Teologia e Libertação" e da edição das obras completas de C. G. Jung. Foi redator da Revista Eclesiástica Brasileira (1970-1984), da Revista de Cultura Vozes (1984-1992) e da Revista Internacional Concilium (1970-1995).
Em 1984, em razão de suas teses ligadas à Teologia da Libertação, apresentadas no livro "Igreja: Carisma e Poder", foi submetido a um processo pela Sagrada Congregação para a Defesa das Fé, ex Santo Ofício, no Vaticano. Em 1985, foi condenado a um ano de "silêncio obsequioso" e deposto de todas as suas funções editoriais e de magistério no campo religioso. Dada a pressão mundial sobre o Vaticano, a pena foi suspensa em 1986, podendo retomar algumas de suas atividades.
››› na cadeira de Galilei Galileu
Em 1992, sendo de novo ameaçado com uma segunda punição pelas autoridades de Roma, renunciou às suas atividades de padre e se auto-promoveu ao estado leigo. "Mudou de trincheira para continuar a mesma luta": continua como teólogo da libertação, escritor, professor e conferencista nos mais diferentes auditórios do Brasil e do estrangeiros, assessor de movimentos sociais de cunho popular libertador, como o Movimento dos Sem Terra e as comunidades eclesiais de base (CEB's), entre outros.
Em 1993 prestou concurso e foi aprovado como professor de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Em 8 de Dezembro de 2001 foi agraciado com o premio nobel alternativo em Estocolmo (Right Livelihood Award).
Atualmente vive no Jardim Araras, região campestre ecológica do município de Petrópolis-RJ e compartilha vida e sonhos com a educadora/lutadora pelos Direitos a partir de um novo paradigma ecológico, Marcia Maria Monteiro de Miranda. Tornou-se assim ‘pai por afinidade’ de uma filha e cinco filhos compartilhando as alegrias e dores da maternidade/paternidade responsável. Vive, acompanha e re-cria o desabrochar da vida nos "netos" Marina , Eduardo, Maira, Luca e Yuri.
É autor de mais de 60 livros nas áreas de Teologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística. A maioria de sua obra está traduzida nos principais idiomas modernos.
Durante 22 anos, foi professor de Teologia Sistemática e Ecumênica em Petrópolis, no Instituto Teológico Franciscano. Professor de Teologia e Espiritualidade em vários centros de estudo e universidades no Brasil e no exterior, além de professor-visitante nas universidades de Lisboa (Portugal), Salamanca (Espanha), Harvard (EUA), Basel (Suíça) e Heidelberg (Alemanha).
Esteve presente nos inícios da reflexão que procura articular o discurso indignado frente à miséria e à marginalização com o discurso promissor da fé cristã gênese da conhecida Teologia da Libertação. Foi sempre um ardoroso defensor da causa dos Direitos Humanos, tendo ajudado a formular uma nova perspectiva dos Direitos Humanos a partir da América Latina, com "Direitos à Vida e aos meios de mantê-la com dignidade".
É doutor honoris causa em Política pela universidade de Turim (Itália) e em Teologia pela universidade de Lund (Suécia), tendo ainda sido agraciado com vários prêmios no Brasil e no exterior, por causa de sua luta em favor dos fracos, dos oprimidos e marginalizados e dos Direitos Humanos.
De 1970 a 1985, participou do conselho editorial da Editora Vozes. Neste período, fez parte da coordenação da publicação da coleção "Teologia e Libertação" e da edição das obras completas de C. G. Jung. Foi redator da Revista Eclesiástica Brasileira (1970-1984), da Revista de Cultura Vozes (1984-1992) e da Revista Internacional Concilium (1970-1995).
Em 1984, em razão de suas teses ligadas à Teologia da Libertação, apresentadas no livro "Igreja: Carisma e Poder", foi submetido a um processo pela Sagrada Congregação para a Defesa das Fé, ex Santo Ofício, no Vaticano. Em 1985, foi condenado a um ano de "silêncio obsequioso" e deposto de todas as suas funções editoriais e de magistério no campo religioso. Dada a pressão mundial sobre o Vaticano, a pena foi suspensa em 1986, podendo retomar algumas de suas atividades.
››› na cadeira de Galilei Galileu
Em 1992, sendo de novo ameaçado com uma segunda punição pelas autoridades de Roma, renunciou às suas atividades de padre e se auto-promoveu ao estado leigo. "Mudou de trincheira para continuar a mesma luta": continua como teólogo da libertação, escritor, professor e conferencista nos mais diferentes auditórios do Brasil e do estrangeiros, assessor de movimentos sociais de cunho popular libertador, como o Movimento dos Sem Terra e as comunidades eclesiais de base (CEB's), entre outros.
Em 1993 prestou concurso e foi aprovado como professor de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Em 8 de Dezembro de 2001 foi agraciado com o premio nobel alternativo em Estocolmo (Right Livelihood Award).
Atualmente vive no Jardim Araras, região campestre ecológica do município de Petrópolis-RJ e compartilha vida e sonhos com a educadora/lutadora pelos Direitos a partir de um novo paradigma ecológico, Marcia Maria Monteiro de Miranda. Tornou-se assim ‘pai por afinidade’ de uma filha e cinco filhos compartilhando as alegrias e dores da maternidade/paternidade responsável. Vive, acompanha e re-cria o desabrochar da vida nos "netos" Marina , Eduardo, Maira, Luca e Yuri.
É autor de mais de 60 livros nas áreas de Teologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística. A maioria de sua obra está traduzida nos principais idiomas modernos.
Projetos
Atuando de forma orgânica desde 1979, o CDDH vem dando, no decorrer deste período, inúmeras contribuições para o crescimento das organizações populares e conseqüentemente na sua luta pelos Direitos Humanos fundamentais.O CDDH nasceu numa época de grande fecundidade de Movimentos Populares no Brasil e na América Latina: centrais sindicais, central de movimentos populares, pastorais populares, CEB’s, partidos populares, movimentos de povos indígenas, de negros, de mulheres, de sem-terra, de moradia, de saúde e muitos outros.Todos esses movimentos de base tiveram um grande impulso de importantes setores das Igrejas que estiveram comprometidos com a construção da cidadania e a transformação da sociedade a partir dos empobrecidos. A Teologia da Libertação tornou-se, então, a inspiradora de amplos setores de cristãos (e até de não-cristãos) que desenvolviam sua prática política embasados na sua fé.O CDDH tem por objetivo maior a construção da cidadania plena dos empobrecidos e excluídos da sociedade a partir mesmo de seu lugar social e trabalhando ao máximo para que sejam eles o sujeito deste processo. Entendemos como cidadania plena o respeito integral a todos os direitos da pessoa humana e a existência de condições materiais, sociais, políticas e culturais para que este processo se perpetue pelas gerações. Trata-se da construção de uma sociedade humana verdadeiramente democrática e participativa, que reconheça a diferença e os direitos das minorias, e que seja visceralmente solidária e fraterna. Buscando manter o máximo de coerência com o objetivo geral e esforçando-se para que ele esteja presente no bojo de cada atividade desenvolvida pelo CDDH, são colocados como objetivos específicos do projeto os seguintes pontos:
- Assessoria aos Movimentos Populares- Fomento à organização comunitária- Apoio jurídico às lutas populares- Educação para os Direitos Humanos- Organização de grupos de produção- Profissionalização de adolescentes
Atuando de forma orgânica desde 1979, o CDDH vem dando, no decorrer deste período, inúmeras contribuições para o crescimento das organizações populares e conseqüentemente na sua luta pelos Direitos Humanos fundamentais.O CDDH nasceu numa época de grande fecundidade de Movimentos Populares no Brasil e na América Latina: centrais sindicais, central de movimentos populares, pastorais populares, CEB’s, partidos populares, movimentos de povos indígenas, de negros, de mulheres, de sem-terra, de moradia, de saúde e muitos outros.Todos esses movimentos de base tiveram um grande impulso de importantes setores das Igrejas que estiveram comprometidos com a construção da cidadania e a transformação da sociedade a partir dos empobrecidos. A Teologia da Libertação tornou-se, então, a inspiradora de amplos setores de cristãos (e até de não-cristãos) que desenvolviam sua prática política embasados na sua fé.O CDDH tem por objetivo maior a construção da cidadania plena dos empobrecidos e excluídos da sociedade a partir mesmo de seu lugar social e trabalhando ao máximo para que sejam eles o sujeito deste processo. Entendemos como cidadania plena o respeito integral a todos os direitos da pessoa humana e a existência de condições materiais, sociais, políticas e culturais para que este processo se perpetue pelas gerações. Trata-se da construção de uma sociedade humana verdadeiramente democrática e participativa, que reconheça a diferença e os direitos das minorias, e que seja visceralmente solidária e fraterna. Buscando manter o máximo de coerência com o objetivo geral e esforçando-se para que ele esteja presente no bojo de cada atividade desenvolvida pelo CDDH, são colocados como objetivos específicos do projeto os seguintes pontos:
- Assessoria aos Movimentos Populares- Fomento à organização comunitária- Apoio jurídico às lutas populares- Educação para os Direitos Humanos- Organização de grupos de produção- Profissionalização de adolescentes
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